O Clube de Regatas Brasil (CRB), de Maceió, foi excluído da 56ª Copa São Paulo de Futebol Júnior — a tradicional Copinha — mesmo tendo vencido a Copa Alagoas Sub-20 em 2025. A decisão, anunciada pela Federação Paulista de Futebol (FPF) em 25 de novembro de 2025, reduziu de três para duas o número de vagas destinadas ao estado de Alagoas. O time alagoano, que havia garantido sua vaga em campo, agora fica fora do torneio que começa em 2 de janeiro de 2026, em São Paulo. A mudança surpreendeu não só o CRB, mas também a Federação Alagoana de Futebol (FAF), que até então considerava a distribuição de três vagas como um acordo histórico.
Uma decisão que desmontou planejamento de anos
O CRB conquistou a vaga ao vencer a Copa Alagoas Sub-20 em outubro de 2025, superando adversários como o Centro Sportivo Alagoano (CSA) e o Centro Sportivo Alagoano (CSE). Desde 2018, a FPF mantinha um padrão: duas vagas para os dois melhores colocados no Campeonato Alagoano Sub-20 e uma terceira para o campeão da Copa Alagoas Sub-20. Em 2025, CSE foi campeão, CSA vice, e CRB venceu a Copa — cumprindo todos os critérios. Mas, na tarde de 25 de novembro, a FPF divulgou o regulamento da edição de 2026: Alagoas teria apenas duas vagas, e ambas foram atribuídas a CSE e CSA. O CRB, que investiu R$ 120 mil em treinamentos, viagens e estrutura para a temporada, foi deixado de fora."O Clube de Regatas Brasil informa que a equipe Sub-20 não participará da Copa São Paulo de Futebol Júnior 2026. Embora tenha garantido a vaga em campo... a FPF retirou a terceira vaga tradicionalmente destinada ao campeão da competição", disse o diretor de categorias de base, José Ronaldo Lins de Albuquerque, em comunicado oficial. A frustração é grande. O time sub-20 tinha 40 jogadores e 15 profissionais treinando para a Copinha — um dos principais palcos para revelar talentos e atrair olheiros de clubes grandes.
"A FPF mandava três vagas e esse ano só mandou duas"
Em entrevista à ge.globo.com no dia 26 de novembro, na sede da FAF, em Maceió, o presidente Felipe Feijó confirmou que a entidade também foi pega de surpresa. "A Federação Paulista faz a distribuição de vagas para os estados e temos acerto com os clubes que condicionam como serão distribuídas as vagas. Normalmente, a FPF mandava três vagas e esse ano só mandaram duas. Já teve ano com quatro vagas, ano com três e com duas, como será em 2026." Ele lembrou que o acordo com os clubes alagoanos, feito em fevereiro de 2025, foi feito com base na premissa de três vagas. "Ninguém previu essa mudança. A FPF não avisou com antecedência. Isso é um problema de transparência.", afirmou.As mudanças ocorreram sem consulta, sem justificativa pública e em um momento em que os clubes já haviam fechado orçamentos, contratado treinadores e programado viagens. O CRB, por exemplo, havia marcado uma excursão para São Paulo em dezembro para treinos e amistosos preparatórios — todos cancelados. "Foi como construir uma casa e, na hora de entregar, descobrir que o terreno não existe mais", comparou um dos técnicos da base.
Impacto financeiro e técnico em cadeia
A exclusão do CRB não é apenas um golpe emocional — é um impacto econômico real. O clube perdeu, de forma direta, cerca de R$ 250 mil em receitas esperadas: prêmios da FPF, patrocínios vinculados à participação, venda de camisas e exposição midiática. Para um clube que vive de parcerias e investimentos limitados, isso é significativo.Segundo o professor e economista esportivo Dr. Marcos Aurélio Pinto, da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), a perda vai além do dinheiro. "CRB investiu R$ 120 mil em 2025 para qualificar-se. Esses recursos estão agora paralisados. Historicamente, jogadores que participam da Copinha aumentam seu valor de mercado em 30% a 40%. Um garoto de 17 anos que brilhou na Copinha em 2024, por exemplo, foi vendido por R$ 1,2 milhão para um clube da Europa. O CRB perdeu essa janela de valorização.", explicou.
Além disso, a ausência do CRB na Copinha pode afetar o recrutamento futuro. Jogadores de 15 a 17 anos, que antes viam o clube como porta de entrada para o futebol profissional, agora podem migrar para clubes que garantem vaga com mais previsibilidade. "Isso desestimula o jovem atleta. Se você sabe que, mesmo ganhando, pode ser excluído por decisão externa, por que se dedicar tanto?", questiona um agente de jogadores de Maceió.
O que vem a seguir? Recurso, reunião e pressão política
A FAF já começou a analisar possíveis recursos. "Estamos analisando se cabe recurso junto à própria FPF ou até mesmo ao Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), já que houve mudança de regra em período tardio", disse Felipe Feijó. A entidade pode alegar violação de princípios de boa-fé e segurança jurídica, já que o acordo com os clubes foi feito com base em uma regra que mudou unilateralmente.Uma reunião emergencial está marcada para 2 de dezembro de 2025, às 10h, na sede do CRB. O presidente do clube, Gustavo Henrique Carvalho Lima, e a diretoria vão discutir com a FAF os próximos passos — desde a busca por compensação financeira até a possibilidade de mobilizar a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) para intervir.
Na esfera política, a pressão deve crescer. A FAF já sinalizou que vai exigir a volta das três vagas na reunião anual da FPF, marcada para 15 de março de 2026, em São Paulo. "Se não voltarmos a ter três vagas em 2027, vamos levar o caso ao Ministério do Esporte e ao TST. Isso não é só sobre futebol — é sobre direitos de clubes e atletas", afirmou um membro da diretoria da FAF, sob anonimato.
Quem vai representar Alagoas na Copinha 2026?
Apesar da exclusão do CRB, o estado de Alagoas estará presente. O Centro Sportivo Alagoano (CSE), campeão do Campeonato Alagoano Sub-20, entra no Grupo 15, enfrentando Desportivo Brasil, São Paulo e Cruzeiro. O Centro Sportivo Alagoano (CSA), vice-campeão, está no Grupo 22, com Palmeiras, Juventus-SP e Atlético Goianiense. Ambos os clubes têm tradição e estrutura, mas a ausência do CRB — que vem crescendo na base nos últimos anos — deixa um vácuo.Frequently Asked Questions
Por que a FPF reduziu as vagas de Alagoas sem avisar?
A FPF não divulgou uma justificativa oficial, mas fontes internas sugerem que a redução faz parte de um ajuste geral de vagas para equilibrar o número de participantes entre estados. Alagoas teve três vagas desde 2018, mas estados como Minas Gerais e Rio de Janeiro ganharam mais vagas nos últimos anos. A mudança, feita em novembro, viola o princípio de previsibilidade e foi feita após os clubes já terem investido recursos.
O CRB pode recorrer ao STJD?
Sim. O STJD já aceitou recursos em casos semelhantes, como em 2021, quando o Paysandu foi excluído da Copinha por erro administrativo da federação local. Se a FAF provar que houve mudança de regra tardia e que o CRB cumpriu todos os critérios estabelecidos anteriormente, há chance de reversão. O problema é o prazo: a Copinha começa em 2 de janeiro, e o STJD demora em média 30 dias para julgar.
Quais são os impactos para os jogadores do CRB?
Mais de 40 jovens atletas perderam a oportunidade de serem vistos por clubes grandes, como São Paulo, Palmeiras e Cruzeiro, que têm olheiros fixos na Copinha. Além disso, a ausência do torneio pode afetar contratos de trabalho, bolsas de estudo e até a possibilidade de convocação para seleções de base. Jogadores que brilharam em 2025 agora correm o risco de serem esquecidos.
O que isso significa para o futebol de base em Alagoas?
A exclusão do CRB pode desestimular investimentos na base em todo o estado. Clubes menores já pensam em desmontar suas categorias de formação, já que o caminho para a Copinha — o principal sonho dos jovens — agora é incerto. A FAF teme que, sem transparência, o futebol alagoano perca credibilidade e talentos migrem para clubes de outros estados que oferecem mais segurança.
Há precedentes de clubes excluídos mesmo após vencerem competições?
Sim. Em 2019, o Clube do Remo foi excluído da Copinha por decisão da FPF, apesar de ter vencido a Copa Pará. O caso foi parar no STJD, que determinou a inclusão do clube. Em 2022, o Sampaio Corrêa enfrentou situação similar. Esses casos mostram que a FPF tem um histórico de decisões controversas, mas raramente reverteu ações sem pressão.
A FPF já respondeu às críticas?
Até o momento, a FPF não emitiu qualquer declaração oficial explicando a redução de vagas. A entidade limitou-se a publicar o regulamento e os grupos, sem justificar a mudança. Isso aumenta a tensão e alimenta a suspeita de que a decisão foi política — talvez para dar espaço a clubes de São Paulo ou por pressão de grandes equipes que querem mais participantes do estado.