Quando Donald Trump, presidente dos Estados Unidos enviou um C‑17 da Força Aérea dos Estados Unidos carregado de migrantes deportados, o governo mexicano, liderado por Claudia Sheinbaum, presidente de México, recusou a aterrissagem na manhã de 24 de janeiro de 2025. O gesto inesperado marcou a primeira vez que o país negou uma ordem direta de Washington desde que o novo presidente Trump declarou emergência na fronteira sul.
Contexto da emergência migratória
A decisão de Trump de declarar emergência na fronteira sulEstados‑Unidos – México foi acompanhada por um aumento imediato de tropas – 1.500 soldados foram enviados nos primeiros dias – e por medidas econômicas que incluíam a ameaça de um imposto de 25 % sobre produtos mexicanos a partir de fevereiro.
Essas medidas, somadas à suspensão da admissão de refugiados – cerca de 50.000 pessoas foram deixadas à espera – criaram um clima de crise que o governo de Sheinbaum tentou conter com a construção de nove centros de acolhimento ao longo da fronteira.
Detalhes da negação do voo C‑17
O avião, um C‑17 Globemaster III da Força Aérea, chegou ao espaço aéreo mexicano às 07h30 GMT de 24 de janeiro, carregando aproximadamente 80 migrantes, a maioria de nacionalidade colombiana. Oficiais da Secretaría de Relaciones Exteriores (SRE) confirmaram que o pedido para aterrissar foi recusado formalmente, embora um comunicado oficial da SRE tenha reiterado a disposição do México em receber cidadãos mexicanos de volta.
A recusa foi verificada por duas fontes da Reuters, uma americana e outra mexicana, que preferiram permanecer anônimas. O mesmo dia, dois voos semelhantes pousaram sem incidentes na Guatemala, levantando suspeitas de que o governo de Washington estava testando diferentes rotas de deportação em massa.
- 24/01/2025 – voo C‑17 tenta pousar no México e é negado.
- 23/01/2025 – dois voos C‑17 pousam na Guatemala com cerca de 80 migrantes cada.
- 20/01/2025 – Trump declara emergência na fronteira e envia 1.500 soldados.
- 24/01/2025 – Sheinbaum anuncia nove centros de acolhimento na fronteira.
- 25/01/2025 – ICE recebe poderes para deportações instantâneas, segundo o NYT.
Reações de México, Colômbia e EUA
Em Washington, a administração de Trump ainda não comentou oficialmente a recusa, mas fontes próximas ao Pentágono disseram que o governo americano está avaliando alternativas logísticas, possivelmente redirecionando os migrantes para aeroportos no Caribe.
Do outro lado da fronteira, o presidente colombiano Gustavo Petro fez declarações claras: “Migrante não é criminoso”. Ele enviou de volta os aviões que transportavam cidadãos colombianos, alinhando-se ao discurso de direitos humanos que tem marcado seu governo.
Já a SRE, através de um comunicado, afirmou que "tratando‑se de repatriações, sempre aceitaremos a chegada de mexicanas e mexicanos ao nosso território com os braços abertos", mas enfatizou que a soberania de ambos os países deve ser respeitada – uma frase que soa como um delicado convite ao diálogo, mas também como um alerta de que a cooperação tem limites.

Impactos regionais e previsões
Especialistas em migração da Universidade Nacional Autónoma do México (UNAM) alertam que a recusa do voo pode desencadear uma onda de tensões diplomáticas. Se o México fechar portas para os EUA, Washington pode recorrer a pressões econômicas adicionais ou buscar acordos com outras nações latino‑americanas, como a Guiana ou o Panamá, para evitar um congestionamento na fronteira sul.
Analistas da Brookings Institution apontam que a estratégia de Trump de “deportação instantânea” viola acordos internacionais sobre proteção de refugiados e pode gerar sanções da ONU. Isso, aliado à retórica de rotular cartéis de drogas como organizações terroristas, aumenta o risco de incidentes violentos nas áreas fronteiriças.
Para os migrantes, a perspectiva é ainda mais incerta. Organizações de direitos humanos como a Human Rights Watch já registraram casos de deportações sem avaliação de asilo, o que pode levar a abusos graves quando os indivíduos são enviados de volta a países onde correm risco de perseguição.
Próximos passos
Nos próximos dias, espera‑se que o Departamento de Estado dos EUA solicite uma nova autorização formal, possivelmente oferecendo compensações econômicas ao México. Enquanto isso, o governo de Sheinbaum deve acelerar a operação dos nove centros de acolhimento, que ainda estão em fase de construção.
Se a tensão persistir, o Conselho de Segurança das Nações Unidas pode ser convocado para mediar a disputa, embora Washington já tenha mostrado relutância em aceitar intervenções multilaterais em questões migratórias.
O que fica claro é que o episódio do C‑17 não é um caso isolado, mas parte de um padrão de enfrentamento entre Washington e a América Latina que vem se intensificando desde o início da segunda mandato de Trump. Como essa história vai se desenrolar nos próximos meses dependerá tanto da capacidade de negociação dos líderes quanto da pressão da sociedade civil, que tem se mobilizado nas ruas de Cidade do México e Bogotá para protestar contra políticas que consideram desumanas.
Perguntas Frequentes
Por que o México recusou o voo C‑17?
O governo mexicano alegou que, embora aceite a repatriação de cidadãos mexicanos, não pode autorizar um pouso militar sem acordo prévio, especialmente após a declaração de emergência migratória por parte dos EUA, que considerou a medida uma violação da soberania nacional.
Como a recusa impacta os migrantes colombianos?
Com o presidente Gustavo Petro proibindo o retorno de colombianos pelos aviões americanos, esses migrantes permanecem em pontos de retenção nos EUA, aguardando novos acordos ou processos de asilo, o que aumenta a vulnerabilidade e prolonga a situação de insegurança.
Qual a resposta dos Estados‑Unidos ao bloqueio?
Até o momento, o Pentágono e o Departamento de Estado ainda não emitiram declarações oficiais, mas fontes indicam que Washington está avaliando rotas alternativas e, possivelmente, pressionando economicamente o México para obter concessões.
Quais são as consequências econômicas para o México?
Se a tensão persistir, o México pode enfrentar uma tributação de 25 % sobre exportações para os EUA, além de possíveis sanções comerciais. O governo tem buscado diversificar mercados, mas a proximidade econômica com os EUA torna a situação delicada.
O que especialistas preveem para o futuro da política migratória?
Analistas acreditam que a política de "deportação instantânea" pode gerar mais confrontos diplomáticos e, possivelmente, levar a intervenções de organismos internacionais, caso violações de direitos humanos sejam comprovadas em larga escala.